segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

"Mulheres estão a vencer obesidade, homens não!"

Estudo avaliou comportamentos de mais de três mil adultos
"O que mudou nos hábitos dos portugueses nos últimos anos

Mulheres estão a vencer obesidade, homens não

Elas têm mais cuidado com o que comem e isso reflecte-se na massa corporal. Mais de 60 por cento dos homens têm excesso de peso.
As mulheres portuguesas estão a ganhar a luta contra a obesidade, mas com os homens está a acontecer exactamente o contrário. Mais de metade são pré-obesos e 11 por cento são mesmo obesos, enquanto quase 60 por cento das mulheres têm um índice de massa corporal (relação entre o peso e a altura) considerado normal. É neste sentido que apontam os resultados do estudo epidemiológico Alimentação e Estilos de Vida da População Portuguesa, que avaliou mais de três mil portugueses adultos e foi realizado pela Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação (SPCNA) no âmbito de um protocolo de mecenato científico com a Nestlé.

Comparando com os dois estudos de prevalência nacional da obesidade, coordenados pela médica Isabel do Carmo, entre 1995/1998 e 2005/2006 - que demonstraram que o problema do excesso de peso e obesidade estava a aumentar nos dois sexos, atingindo já no último trabalho 53,6 por cento do total -, a situação estará a melhorar, no que diz respeito ao sexo feminino.

"As mulheres estão a captar bem a mensagem", comenta Maria Daniel Vaz Almeida, presidente da SPCNA, que confessa ter ficado um pouco surpreendida com este resultado, numa altura em que a obesidade parecia registar um crescimento "quase incontrolável". "Já se nota algum efeito dos programas de combate à obesidade, uma luz ao fundo do túnel", congratula-se.

Os dados deste novo estudo indicam que cerca de um quarto das mulheres sofre de excesso de peso e um terço dos homens apresenta um IMC dito normal (entre 18,5 e 24,9). Só na obesidade de grau II e III (IMC superiores a 35 e a 40, respectivamente) é que as mulheres suplantam os homens, mas as diferenças não são significativas. E praticamente quase só há mulheres magras, em idades jovens. Por regiões, a obesidade é um problema que afecta mais os Açores, o Alentejo e a Madeira. Por outro lado, no Norte é onde se encontra a maior percentagem de homens pré-obesos e de mulheres com peso normal.

Homens mexem-se mais

Outra boa notícia é a de que há a indicação de que os níveis de actividade física estarão a aumentar. Se há uma década, num inquérito pan-europeu sobre o tema, cerca de 60 por cento dos inquiridos portugueses admitia que não fazia qualquer tipo de actividade física, agora apenas um quarto diz que faz pouco exercício, 44,1 por cento tem uma actividade física média e 31,3 por cento um nível alto, acrescenta a especialista, sublinhando que salvaguarda, porém, que o estudo anterior e o da SPCNA foram realizados com metodologias diferentes.

Ainda assim, 30 por cento das mulheres admitem que se mexem pouco, tal como os mais velhos e menos escolarizados, considerados "grupos de risco". Por regiões, é em Lisboa, no Algarve e no Alentejo que o nível de actividade física é superior, ao contrário do Norte, Centro, Madeira e Açores. "Ainda há uma grande proporção de pessoas com baixa actividade física", lamenta a especialista.

Analisando aquilo que comem os portugueses, percebe-se que as mulheres têm mais cuidado com a alimentação. Consomem mais leite, sopa, fruta, hortícolas, cereais, iogurtes e queijo fresco e requeijão. Já os homens abusam mais da carne, do pão, da batata e arroz e da charcutaria e salsicharia. Nas bebidas, elas preferem a água e eles o vinho e a cerveja. E isso, claro, reflecte-se no peso.

Uma coisa é certa: os portugueses continuam a consumir muito peixe (mais as mulheres do que os homens) comparativamente com outros países da Europa.

Foi a partir dos anos 80 do século passado que os nossos padrões de alimentação se começaram a alterar, com a melhoria do poder de compra e a maior oferta alimentar, explica Maria Daniel Vaz de Almeida. O problema é que, se antes chegávamos a ter situações graves de carência, de fome mesmo, "passámos de um extremo a outro", observa.

A especialista nota que o IMC é uma medida de excesso de peso ou de obesidade pouco fina, uma vez que não distingue entre massa gorda e massa muscular, questões que vão ser avaliadas a seguir pelo grupo que realizou o estudo. De qualquer forma, o IMC é um bom indicador a nível populacional, sublinha. A investigação vai continuar também com um estudo agora dirigido às crianças e jovens. Adolescentes não sabem as calorias ingeridas.

É um problema de desconhecimento: mais de metade dos jovens inquiridos num estudo sobre percepção da ingestão calórica não tinham a noção da quantidade de calorias ingeridas durante as refeições e dois terços ignoravam mesmo quais são as suas necessidades nutricionais diárias.

Neste estudo, realizado por seis alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (Sara Dias, Sandra Neves, Rui Joveira, Ricardo Capela, Francisco Rosa e João Castro), foram entrevistados 391 jovens entre os 16 e os 19 anos frequentadores de restaurantes.

A maioria dos inquiridos (57,8 por cento) não fazia ideia do número de calorias ingeridas numa refeição, sendo que a proporção dos que desconheciam o valor calórico do que comiam era superior entre os rapazes (62,7 por cento).

Os autores constataram diferenças significativas entre rapazes e raparigas, tendo estas, para além de uma maior noção das calorias ingeridas, maior preocupação com a alimentação e maior insatisfação com o peso.

No geral, apesar de a maior parte dos inquiridos (70,6 por cento) se mostrar preocupada com a alimentação, pouco mais de um terço sabia quantas calorias necessitava por dia."  
Jornal Publico.Pt
 

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